quinta-feira, novembro 10, 2011

      Encontros
    • Olá; tudo bem? - Perguntei a um senhor que andava titubeando apoiando-se em uma bengala, caminhando por uma estrada íngreme com um sol escaldante queimando seu rosto.

    • Ora, ora, você finalmente chegou. Como tem sido a viagem? - Perguntou-me o velho com sua voz fraca e rouca, já desgastada pelo tempo, como se fosse um amigo íntimo que me esperasse por um longo tempo.

    • Perdoe-me, mas acho que o senhor está me confundindo com alguém. - Respondi ao velho.
Neste momento, ele me olhou nos olhos, esboçou um sorriso, levantou sua mão cansada e marcada com as marcas do tempo, passou-a suavemente pelo meu rosto; pude sentir os calos, as ranhuras, e disse:
    • É meu jovem, vejo que és bonito, viçoso, tens uma voz grave que com certeza agrada as mulheres.
Retribuí com um sorriso meio amarelado, o rosto um pouco corado, mas antes que dissesse qualquer coisa ele me perguntou novamente:
    • Mas diga meu jovem; como tem sido a viagem?
Olhei para aquele rosto com as marcas que só mesmo ele poderia descrever; insisti:
    • Senhor, perdoe-me outra vez, mas acredito mesmo que estás me confundindo com alguém, um parente, um vizinho, ou até mesmo um bisneto talvez.
Ele então, apontando o dedo indicador para me mostrar o caminho que havia pela frente me perguntou:
    • Me diga, o quê você vê à sua frente?
Vislumbrei a estrada à nossa frente, refleti um pouco sobre o que ele estava tentando me dizer, e respondi:
    • Confesso que não vejo nada além de uma estrada longa, sinuosa, com algumas entradas e saídas, e nada mais.
Então; ele se apoiou em meu ombro, virou-se lentamente para trás e me perguntou:
    • E agora, o quê você vê? - Já estava começando e me arrepender por ter puxado assunto com aquele velho, tantas pessoas indo e vindo e justo com um velho que não parecia dizer nada com nada, é que fui puxar conversa.

    • Não estou vendo absolutamente nada, além da estrada que já percorri. - Respondi num tom já meio irritado.

    • Não se aborreça, olhe outra vez. - Disse-me ele com a voz fraca mas serena.
De repente, comecei a observar uma criança, ela não me parecia estranha mas a única imagem que me vinha à mente eram as suas imagens em algum álbum de fotos.

Continuei olhando quando aquela criança se levantou e começou vir em minha direção. Enquanto caminhava, de alguma maneira que não sei explicar, ela vinha crescendo se desenvolvendo, parava em alguns momentos, conversava com alguns amigos meus da infância e adolescência, beija algumas meninas que foram minhas namoradinhas, mudou sua expressão ao encontrar alguns que foram meus desafetos, alegrou-se com algumas conquistas, deixou escapar algumas oportunidades. E quanto mais se aproximava de mim, mais sua aparência ia mudando, ficando cada vez mais semelhante a alguém que eu conhecia, até que o susto foi inevitável, estava olhando para mim mesmo, como quem olha-se num espelho.
    • Meu Deus, sou eu mesmo! - Exclamei naquele momento assustado, e quando olhei para aquele senhor ao meu lado perguntei-lhe:

    • Quem é o Senhor? Deus?
Ele deu uma gargalhada gostosa e disse:
    • Ora, sei que você é presunçoso, mas não chega a tanto.

    • Como assim? - Perguntei. - Então quer dizer que você sou eu?

    • Como tem sido a viagem?. A estrada da vida é longa, ou curta não sabemos, mas como iremos caminhar por ela, nós é quem decidimos. Nesta estrada, nada do que fizemos ficará esquecido, nada será apagado. Saber disso hoje, me faz querer voltar ao passado, concertar os erros, amar mais as pessoas do que as coisas, tornar os desafetos; (nem todos é claro), em afetos, solidificar mais as amizades, e fazer novas. Ser mais amigo, ter mais paciência, viver cada dia como o presente, plantar para um futuro menos árduo, mas não abrir mão do que é mais importante; relacionamento. Construí impérios, dirigi os mais sofisticados automóveis, viajei de primeira classe nos mais modernos aviões e navios, brindei com os melhores vinhos. Para tudo isso, dediquei muito tempo da minha vida, muitas horas de trabalho, muitos momentos com minha família foram sacrificados. Por isso hoje ando só por esta estrada, já não posso mais dirigir, pois o tempo desgastou meus olhos, os meus reflexos já não são mais os mesmos. Já não posso mais mandar em ninguém, pois o patrimônio que construí hoje está em outras mãos, o afago daquela que a minha alma amou já não tenho mais, pois de tanto deixá-la sozinha a me esperar, hoje ela já não me espera mais.
Aquele velho após me ter dito estas palavras, antes de sair e continuar sua jornada sozinho, afagou os meus cabelos, beijou-me a testa e me disse suas últimas palavras:
    • Os erros cometidos já não dão mais para mudar, mas a atitude para se evitar mais erros, essa poder ser mudada sempre que necessário. Não tenha medo de mudar, tenha medo de deixar de se relacionar, tenha medo de deixar de amar pessoas para amar coisas, porque quando isso acontecer é você quem estará andando por esta estrada, e seu único companheiro será uma bengala para te apoiar.

Cleiton Ramos

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