Expectativa da Estréia

Toda estréia é coberta por grandes expectativas, sejam elas dos expectadores ou do próprio estreante que aliás, é o que mais se cobra. O estreante deseja ardentemente fazer uma estréia realmente de gala, ele anseia por corresponder as expectativas de todos os que o aguardam.

Lembram-se do Ronaldo “Fenômeno”, quando estreou no Corínthians, depois de mais de um ano afastado dos gramados? Toda imprensa buscando uma palavra, até acertaram o olho dele com um microfone, tudo isso, por conta da grande expectativa de todos.

Imaginem, o próprio, como não estava se sentindo naquela noite de 04/03/2009. Todos esperavam demais dele, um gol, um passe, todos seus movimentos eram filmados e fotografados. O mais importante naquela noite foi ele, o mesmo entrou no segundo tempo aos 20 minutos, suou, “correu”, até tentou um drible, mas ficou só nisso.

Não tenho a menor dúvida, que sua estréia não era o que ele esperava. Pelo menos um gol, nem que fosse anulado, por ter sido irregular, nem que fosse impedido e o juíz, fingisse não ter visto. Mas não, o gol não saiu, até mesmo porque seu companheiro, que poderia ter ajudado-o, quis se aparecer mais que ele, o “fenômeno”, e numa oportunidade clara de gol, preferiu tomar a bola para si arriscando o chute, e perdendo assim o gol e também a oportunidade de estender a ajuda ao companheiro.

Eu me lembro quando estreei em minha vida cristã, ah, que noite! Eu acabara de assistir um filme numa igreja Batista, o filme; “Inferno em Chamas”. Recordo-me que quando o filme acabou, quase nem quis esperar o pastor terminar de fazer o “apelo”, pois queria logo aceitar a Jesus, e assim me livrar das labaredas eternas do inferno em chamas.

Quantas expectativas criei a partir de então, quantas fantasias alimentei sobre como seria minha vida cristã. Passei a ler livros de homens grandemente usados por Deus, como C.H. Spurgeon, (o príncipe dos pregadores), John Wesley, Caio Fábio, Billy Grahan e muitos outros.

Passei então, a projetar minha vida cristã, sonhei até em me tornar um grande pregador, e tantos outros projetos que fui criando com imensa expectativa, afinal estava estreando numa nova vida, precisava corresponder as expectativas não só minhas, mas também das pessoas que me rodeavam.

Os dias foram passando e toda aquela empolgação da estréia passou juntamente com os dias, comecei perceber que não conseguiria render o suficiente, passei a ser cobrado pelas pessoas, por mim, pois por mais que eu fizesse, por mais que me esforçasse, não conseguia fazer o gol, não conseguia alcançar o alvo, não conseguia satisfazer e corresponder as expectativas das pessoas e nem as minhas.

Tudo então passou a ficar complexo, tudo passou a ficar sufocante, fui perdendo as referências, fui abrindo mão cada vez mais de querer corresponder as expectativas, pois não conseguia nem de longe ser um fenômeno, fui ficando frustrado, chateado, cansado e cada vez mais perdendo o foco do objetivo.

Mas, que objetivo? E pensar que tudo começou só porque não queria (e não quero), queimar para sempre no fogo do inferno em chamas. Naquela noite eu entendi que Jesus queria me salvar, mas o que não entendi e confesso que até hoje ainda não entendo é a profundidade de uma palavra que encontro na Bíblia Revista e Corrigida 206 vezes, com apenas 5 letras, mas que tem maior significado para mim quando a vejo registrada em Efésios 2.8 “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus”.

Graça; eu sei que existem várias maneiras de entender essa palavra no seu conceito radical, fazendo uma análise morfológica, o que eu não sei é como Deus, me deixa desfrutar dessa graça sem fazer expectativas a meu respeito, sem querer que eu o impressione, sem exigir que eu seja um fenômeno, sem ansiar para que eu acerte todos os lances, simplesmente Ele, com sua graça, só esperou que eu estreasse e não que eu atendesse ou preenchesse expectativas criadas por mim ou pelos outros.

Seu único desejo foi a de que eu entrasse para jogar, para fazer parte do time, e até a fé para acreditar que poderia ser capaz de jogar por esse time me foi dada por Ele.

Talvez você possa dizer que Deus fez isso porque me ama, muito bom saber disso, mas a pergunta é: Que amor é esse? Não tente por favor me citar I Coríntios 13, pois Paulo só consegue descrever ali com muita maestria é verdade, mas ele só consegue descrever o que o amor pode fazer, o que o amor pode suportar, mas não consegue ensinar como se ama daquela forma.

Hoje posso entender que minha estréia na vida cristã é uma dádiva, um presente e que o melhor de tudo isso é saber, que o único desejo do dono do time é que eu consiga chegar até o final e Ele, gentilmente até me assegurou que para todos os que chegam na final, sem exceção, são recebidos com honra, alegria e muita festa e ainda têm o direito de receberem presentes, é só chegar.

Então, me reservo o direito de não ter mais que corresponder as expectativas de absolutamente ninguém nem mesmo as minhas.

Graças a Deus por sua graça! Assim, não preciso ser nenhum fenômeno, então só quero hoje fazer jus a essa graça (que ninguém consegue explicar, graças a Deus, porque a graça é d'Ele) e fazer uma boa partida, ajudar aos meus companheiros, para no final sairmos com mais uma vitória, seguindo as orientações do Professor.